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CONHECIMENTO: CONTOS 

Fariseus


Fariseus

Os discípulos manifestaram abertamente sua alegria quando tomaram a direção de Jerusalém. Mal haviam chegado em Jerusalém, a alegria se transfor­mou em apreensão, porque em todo o lugar onde Jesus apare­cesse, aí brotavam logo dissensões. Diziam uns: sua prédica é de Deus; outros, contrapondo-se, atribuíam-na ao mal. A des­peito da geral animosidade, nada conseguiram contra ele, pois sua hora não havia chegado.

No primeiro dia da festa, Jesus entrou no templo e come­çou a ensinar. Os escribas, revoltando-se, indagavam desde quando se havia implantado o hábito ali, de um leigo proferir sermões. E perguntaram mais:

“Dize-nos, antes de mais nada, quem te instruiu; de onde procede tua doutrina?”

Jesus revidou com voz vibrante:

“Minha doutrina nasce de mim mesmo, e é de Deus, que me enviou. Experimentai viver segundo meus ensinamen­tos, então vos convencereis de que ela vem de Deus, pois ela traz vida em si. Basta acolherdes minhas palavras no íntimo e já sereis venturosos, aqui mesmo na Terra. Digo-vos, sim, que do corpo de quem crê em mim, brotarão correntes de água viva, capazes de soerguer quem se coloque em contato com elas. A esse, a divina força de Deus perfluirá da mesma maneira que perflui na Terra tudo que se abre para ela. Observai as flores dos campos: desabrocham seus cálices aos raios solares. Cogi­tarão elas de onde procedem tais raios? Quem os enviou? Tomai isso como exemplo.”

Jesus ensinou ainda no templo, no dia seguinte, com a maior naturalidade. Os escribas e fariseus acercavam-se dele para vigiá-lo. Por mais que examinassem suas palavras, nada de mal conseguiram encontrar nelas, sendo que isso ainda mais lhes aumentava os rancores.

Como um peso opressivo, Jesus sentia essa vigilância mal­dosa. Tornou-se difícil para ele respirar e falar. Sentiu necessi­dade de respirar ao ar livre. Após calar por um momento, clamou-lhes:

“Vós, escribas, por que viestes até aqui? O que queríeis ouvir? Supusestes acaso surpreender-me em faltas? Nesse caso, por que não me proibis de falar ao povo? De outra forma, sen­do justos meus ensinamentos, por que os ouvis apenas exterior­mente? Recebei minhas palavras de coração aberto.”

Desajeitados os fariseus calaram-se. ‘Seria plausível alguém falar daquele modo tão direto e franco tudo o que pensava e sentia?’

Um dentre eles achou que tinha que replicar alguma coisa. Com voz grossa gritou:

“Será que pertences a Satanás, pensando que desejáva­mos pegar-te em alguma falta?”

Antes que Jesus pudesse rebatê-lo, se é que o fizesse, Nico­demos adiantou-se um passo:

“Ser-nos-á digno proferir tais palavras aqui no templo? Não acho nada de mal em Jesus. Quem, pois, pensar de maneira oposta, que se retire para não tirar o lugar dos que procuram.”

“Ouvis Nicodemos?” perguntou raivosamente, Jehu. “Pois também esse já está subjugado por Jesus. Seria muito cômodo para esse impostor, se nós deixássemos livre o local! Poderia proferir tudo quanto desejasse.”

Depois em tom destacado, gritou:

“Dize-nos, Jesus, que afirmaste em referência ao tem­plo? Que não passa de uma cópia? Ignoras, porventura, que foi nosso pai Salomão quem erigiu este templo? E tu o acusas de mero imitador? Onde encontraria o modelo? Blasfemas decla­rando haver Salomão copiado planta de templos pagãos.”

Cada vez mais excitada soou a voz acusadora de Jehu, e ter-se-ia avolumado, se vozes de protesto não o interrompessem.

Para recomeçar, Jesus elevou as mãos, impondo silêncio, até que o vozerio dos opositores se acalmasse. O semblante do Senhor transparecia paz celeste em tais proporções, que os cir­cunstantes tiveram de admirá-lo. Profundamente e cheia de amor soou sua voz, quando começou a falar:

“Perguntais pelo modelo deste templo terreno? Sabei, em longínquas altiplanuras, no ápice da Criação, se encontra o primitivo modelo, mais belo e imponente como jamais seres humanos lograram executar. Lá pairam venturosos espíritos, em eterna gratidão, cheios de júbilo.

Se demolirdes este templo hoje, aqui, de forma que não restasse pedra sobre pedra, poder-se-ia reedificá-lo, bastando surgir um vulto puro como Salomão, capaz de enxergar o mo­delo original.”

A assistência ouvia radiante de felicidade. Jamais alguém lhes falara assim. Ansiavam ouvir mais, mais daquilo que seus olhos não podiam enxergar. Os sábios, cheios de ódio, ficaram inquietos, pois pareceu-lhes haver encontrado, afinal, algo com que pudessem combatê-lo. Ele havia dito que iria destruir o templo, cochichavam entre si. Como um raio espalhou-se a men­tira. O povo, não obstante, sentiu-se contrafeito, pois todos sabiam que Jesus falara muito diferente. Iniciou-se até uma tentativa popular para fazer calar os caluniadores, a fim de também testemunhar o que era realmente a verdade, no caso. Devido a isso começou uma discussão entre eles que os impos­sibilitou de ouvir as palavras de Jesus.

Com um sorriso triste, o Mestre interrompeu uma frase iniciada. Àqueles homens já não era mais possível dar ajuda. Eles destruíam sempre tudo de novo. O Mestre envolveu-se mais estreitamente em seu manto, como se quisesse evitar todo e qual­quer contato, e serenamente, rodeado de seus discípulos, aban­donou o templo. Pessoa alguma o interceptou, a despeito de haver, ocultos atrás das arcadas, milicianos à espera de ordens dos sacerdotes para prendê-lo.

Fora, Jesus respirou com alívio.

“João, começou Jesus, por que os fariseus me odeiam?”

“Senhor, isso parece-me simples de entender. Eles querem guiar o povo. Sentem-se, pois, apreensivos, quando lhes sur­ge alguém capaz de ministrar coisa superior a deles, para a massa. Seguindo-te, o povo obedeceria a ti e não a eles: eis tudo quanto os fariseus temem.”

Jesus meditou. Seria isso possível? Faltou-lhe a compreen­são para esse modo de pensar.

“Mas, se acolhessem meu ensino, em vez de buscar nele apenas erros, poderiam eles manter-se ainda à frente do seu encargo, guiando sempre o povo, com a única diferença de ofe­recerem diretivas mais elevadas! Não compreenderão isso?”

“Não, Mestre. Creio que não pensam dessa maneira”, foi a desalentadora resposta do discípulo. “Cumpria que alguém os esclarecesse sobre isso, mas quem poderá fazê-lo?” acrescentou desanimado.

“Eu poderia falar-lhes”, replicou Jesus; “porém nunca me creriam, como o fizeram há pouco.”

Volvendo-se outra vez para os demais, Jesus falou:

“Quantas vezes eu disse que por vossas obras se reconhe­ce quem sois? Se porventura sois meus discípulos como deveis ser, haveis de praticar a vontade de Deus, meu Pai; se, porém, pertencerdes ao mundo, sem valia serão vossos frutos.”

Durante essa exposição de pensamentos, eis, que, do céu, se desprende uma estrela cadente, deslizando em direção à Terra, com admiração dos discípulos.

“Senhor, vê, caiu uma estrela. Chegou o fim de todas as coisas?”

Jesus sorriu!

“Nunca observastes a queda de uma estrela? É tão comum. Significa o fim apenas dessas que caíram.”

“Não são as estrelas eternas, então?” perguntou alguém dentre eles. Jesus, por sua vez, perguntou:

“Sabeis quem as criou?”

Eles olharam para Jesus, admirados da pergunta.

“Foi Deus quem as criou.”

“Respondestes bem”, assentiu Jesus. E adiantando mais:

“Alguma coisa criada poderá ser eterna? Deus, tão somente Ele, é eterno, e tudo o que Dele promana. O restante é temporário e perecível. Compreendendo-se isso, também as es­trelas têm os seus dias contados. Depois passam. Em verdade vos digo: o sol, a lua, as estrelas passarão, e com eles, a Terra, mas os homens que praticam a vontade de Deus Eterno, meu Pai, esses subsistirão.”

Nesse tempo os escribas souberam que Jesus falava de Deus como seu Pai. Escandalizados, dirigiram-se a Jesus para interpelá-lo.

“Como te arrogas o direito de chamar a Deus, teu Pai?” Perguntando, aguardavam sua resposta, para a qual oporiam argumentos premeditados.

Jesus, porém, como de costume, replicou-lhes com outra pergunta, que os escribas não esperavam:

“Quem poderia chamar a Deus, seu Pai, senão o Filho?”

Falou-lhes e mirou-os serenamente.

Indignados, perderam sua calma e gritaram:

“Como podes provar que és Filho de Deus?”

E nova pergunta de Jesus:

“Vedes minhas obras e não sabeis com qual força eu as faço? Ouvis minhas palavras, e ainda duvidais? Nessas circunstâncias, nada valerá que vos diga: meu Pai, Ele mesmo, dá testemunho de mim. Tolos, não percebeis que vos está sendo oferecido o pão da eternidade, ao qual desprezais, preferindo levantar pedras?”

Surpresos, aproximaram-se uns aos outros, cochichando.

“Que estaria ele falando? De pão? Não vimos pão algum, nem lhe solicitamos.”

Quanto mais discutiam o assunto, porém, tanto mais con­fusos permaneciam. Deliberaram, em decorrência disso, solici­tar esclarecimentos de Jesus sobre o sentido de suas palavras.

“Aludes a pão: onde está aquele que nos ofereces?”

Sempre fora assim: podia Jesus falar com a maior clareza, o mais compreensível e simples possível, que ainda assim os escribas não o compreendiam.

Dessa feita, os discípulos entenderam bem, e Pedro anteci­pou-se:

“Julgais que o Mestre fala de coisas terrenas. O pão que conheceis, esse alimenta o corpo material apenas, pois que para outra eventualidade não vale; todavia, o pão que Jesus distribui ao mundo, para nutri-lo de forças eternas, é representado por suas palavras. Se vós as aceitardes, sereis salvos. Em vez de aceitardes as palavras que representam o pão da vida, vós vos distraís em apanhar pedras sem valor para vós.”

Perplexos, os escribas olhavam para Pedro. Pois esse Pedro não era um simples pescador? Quem lhe solicitara a explicação?

Não sabiam, contudo, contestá-lo...

Extraído do livro: “De milênios passados”.

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